A partir deste ano, o Brasil ganha um novo centro de pesquisas voltado à recuperação de áreas desmatadas e degradadas na Amazônia, denominado Capoeira. A iniciativa, coordenada pela Embrapa, conta com um investimento de R$ 14 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia, via CNPq.
O Capoeira reunirá mais de 100 pesquisadores de 33 instituições do Brasil e do exterior, que trabalharão por três anos em “laboratórios vivos” para aplicar conhecimentos que visam reverter a destruição da floresta. A coordenadora do projeto, Joice Ferreira, destaca a importância do envolvimento das comunidades locais nesse processo:
“O Capoeira como um centro se propõe a trabalhar com pesquisa, com cursos, palestras, mas tudo com muito diálogo com as comunidades tradicionais, as populações locais, os agricultores familiares que estão nesses territórios. Trabalhando com o que a gente chama de restauração florestal biocultural, que é a partir das práticas e da cultura das pessoas que vivem nesses locais”, afirma Ferreira.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia já perdeu 18% de sua vegetação, uma área equivalente à totalidade do estado de Mato Grosso. Essa destruição resulta de incêndios florestais, extração ilegal de madeira e outras atividades. Joice Ferreira ressalta as consequências já evidentes dessas práticas:
“As mudanças climáticas já são presentes. Todo mundo que está no campo sabe. Já tem muito calor, a chuva já está diminuindo, secas. Nós tivemos dois anos com secas muito grandes. Não é novidade. Todos nós que vivemos na Amazônia, principalmente as pessoas no campo, estão sentindo isso. Então, é um momento de mudança, de reconstrução e de restauração das nossas florestas.”
Em 2015, o Brasil comprometeu-se, no Acordo de Paris, a recuperar 12 milhões de hectares até 2030, sendo que quase metade desse total refere-se à Amazônia. Desde 2020, mais de 2,7 mil iniciativas de restauração na região já cobrem 113 mil hectares.
De acordo com Joice Ferreira, é crucial que haja um esforço conjunto entre a sociedade e o poder público para dar uma dimensão maior à recuperação florestal, uma vez que a questão vai além de metas. A restauração é fundamental para eliminar o excesso de carbono na atmosfera, um dos principais responsáveis pelo aumento da temperatura média do planeta.
Os laboratórios vivos do Capoeira estão localizados em Santarém, no oeste do Pará, na Floresta Nacional do Tapajós, no mosaico do Gurupi, abrangendo terras indígenas no Pará e Maranhão, e no nordeste do Pará, incluindo municípios como Bragança e Paragominas.