O turismo de águas termais ganha força no mundo com foco em bem-estar e saúde: no Brasil, Caldas Novas, em Goiás, concentra a maior reserva conhecida, enquanto pesquisas lideradas por especialistas como Fernando Hellman, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), indicam efeitos terapêuticos. A prática, presente em diferentes culturas e épocas, impulsiona viagens na América do Sul, na Ásia e na Europa, com impacto direto em destinos urbanos e de natureza.
Segundo o Ministério do Turismo, as cidades brasileiras estruturaram uma oferta que vai de parques aquáticos a spas, atraindo famílias e ecoturistas ao longo de todo o ano. No exterior, experiências em ambientes vulcânicos, geotérmicos e calcários ampliam o interesse do viajante por natureza, cultura e saúde.
Panorama e ciência das águas termais
As águas termais saem do campo do relaxamento e avançam sobre a saúde pública graças a comprovações científicas recentes. Estudos observacionais e laboratoriais reforçam o uso complementar dessas fontes em quadros de dor e inflamação, além de cuidados com a pele e respiração.
Como se formam
O ciclo geológico começa com a infiltração da chuva no solo. A água percorre camadas profundas até encontrar rochas aquecidas, absorve minerais e retorna à superfície em temperaturas elevadas, formando nascentes com propriedades específicas conforme a composição do terreno.
Brasil: liderança e infraestrutura
Caldas Novas (GO)
Referência mundial, Caldas Novas é apontada como a maior estância hidrotermal do planeta, com águas entre 30°C e 57°C. A rede turística vai de resorts a piscinas públicas, com serviços que atendem perfis variados de visitantes, conforme o Ministério do Turismo.

Além do descanso, o destino reúne trilhas e mirantes no Parque Estadual da Serra de Caldas, e esportes no Lago Corumbá, como caiaque, stand up paddle e jet ski. Parques aquáticos utilizam as águas quentes em atrações para todas as idades, o que mantém a cidade em alta entre famílias e grupos multigeracionais.
Olímpia (SP)
Olímpia, a 440 quilômetros de São Paulo, consolidou-se como polo de lazer termal graças a um grande parque aquático com 20 piscinas que chegam a 38°C, cercadas por areias claras e palmeiras que simulam clima de praia.
Entre os atrativos, a piscina de ressurgência mantém os banhistas na superfície pelo movimento da água, combinando entretenimento e calor natural que atrai famílias o ano inteiro.
Poços de Caldas (MG)
Poços de Caldas, em Minas Gerais, é um clássico do turismo termal nacional. Pioneira na integração entre banhos quentes e tratamentos de spa desde 1931, a cidade é tradicional em viagens românticas e bem-estar.
Localizada a 450 quilômetros de Belo Horizonte e 275 quilômetros de São Paulo, a estância se popularizou antes mesmo da infraestrutura moderna graças às propriedades medicinais percebidas por visitantes, mantendo acesso facilitado e relevância histórica.
Entre Ríos (Argentina)
A província de Entre Ríos, na Argentina, é reconhecida como capital termal do país, com mais de 16 complexos ao longo do rio Uruguai. As águas hipertermais brotam entre 33°C e 42°C, com áreas dedicadas a relaxamento e terapias.
Os parques combinam spas, áreas de lazer e piscinas de diferentes temperaturas, algumas integradas ao ambiente natural. O acesso é favorecido pela Rota Nacional 14, em trajetos de 3 a 5 horas desde Buenos Aires.
Experiências internacionais marcantes
Lagoa Azul, Islândia
A Lagoa Azul, na Islândia, entrega uma experiência singular: águas geotérmicas que misturam fontes doces e marinhas, em contraste com rochas vulcânicas escuras e neve. O choque entre o frio externo e o calor da água cria um ambiente de relaxamento único.
Pamukkale, Turquia
Em Pamukkale, na Turquia, terraços de calcário formados por séculos de deposição mineral desenham piscinas turquesa que lembram gelo à distância. Por conservação, o banho é restrito em áreas sensíveis, mas o cenário segue como um dos cartões-postais do país.
Parque Nacional de Yellowstone, EUA
No Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, está a terceira maior fonte termal do planeta. O banho é proibido, porém as cores intensas — do azul ao laranja — resultam de microrganismos adaptados a altas temperaturas e composições minerais.
Na década de 1960, o biólogo Thomas Brock e sua equipe isolaram a Thermus aquaticus, microrganismo termófilo cuja descoberta impulsionou técnicas fundamentais da engenharia genética.
Japão e a cultura onsen
No Japão, os onsen compõem uma tradição milenar ligada à intensa atividade vulcânica: são mais de 27 mil fontes naturais espalhadas pelo país. De metrópoles como Tóquio às regiões de montanha, a cultura do banho termal envolve etiqueta rígida e valorização do silêncio.
Para visitantes, recomenda-se atenção à sazonalidade, às políticas sobre tatuagens e à necessidade de reservas antecipadas em centros populares, sempre respeitando costumes locais.
Benefícios e pesquisas
Estudos da Universidade do Sul de Santa Catarina avaliaram águas termominerais com baixas concentrações de radônio. Em testes comparativos com água destilada, animais tratados com a água termomineral apresentaram efeitos analgésicos e anti-inflamatórios por até cinco horas, ante aproximadamente uma hora no grupo controle.
A presença de cálcio, magnésio, sulfato e enxofre está associada a ações específicas: propriedades anti-inflamatórias que suavizam irritações cutâneas — úteis em quadros de eczema e psoríase — e melhora respiratória pela inalação de vapores minerais, com alívio de sintomas de asma e bronquite.