Caiado pressiona Assembleia e exige devolução integral de R$ 600 milhões: crise política se instala em Goiás

Governador endurece o tom e cobra que a Assembleia Legislativa devolva integralmente as sobras do duodécimo. Deputados se irritam, e o clima esquenta às vésperas de um jantar convocado no Palácio das Esmeraldas para discutir o rombo financeiro e o futuro das contas do Estado.

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Caiado pressiona Assembleia e exige devolução integral de R$ 600 milhões: crise política se instala em Goiás

O clima entre o Palácio das Esmeraldas e a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) é de tensão. O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) determinou que os deputados devolvam integralmente os R$ 600 milhões referentes às sobras do duodécimo,  recursos que haviam sido reservados pela Casa e, em parte, direcionados a demandas internas.

O recado foi direto, sem espaço para negociação. “É para devolver e fim de papo”, teria dito o governador a aliados próximos. A ordem deixou a base política em alerta e irritou parlamentares que contavam com parte do dinheiro para custear projetos regionais, obras de infraestrutura e compromissos com municípios.

A cobrança de Caiado reflete a situação financeira delicada do Estado. Nos bastidores, técnicos da Fazenda apontam que Goiás enfrenta dificuldades para fechar o caixa e teme comprometer investimentos e repasses obrigatórios caso a devolução não ocorra.

A ofensiva do governador busca reforçar a imagem de austeridade fiscal e disciplinar o uso de recursos públicos, mas o método escolhido criou ruído dentro da própria base aliada.

Para conter a insatisfação e reorganizar o discurso político, Caiado convocou um jantar com todos os deputados estaduais, marcado para a próxima terça-feira (18), no Palácio das Esmeraldas. O encontro deve reunir não apenas parlamentares da base, mas também figuras do MDB e do PSD, partidos que orbitam o centro do poder em Goiás.

Na pauta, além da devolução dos R$ 600 milhões, estarão temas espinhosos:

O déficit fiscal crescente e as medidas de contenção de gastos;

A retirada de emendas consideradas “jabutis” em projetos de lei;

E o plano político para preservar a imagem do governo em meio à crise.

Segundo aliados, o governador pretende colocar “as cartas na mesa” e pedir comprometimento total da base. Há receio de que divergências internas acabem expondo o governo a um desgaste público num momento de fragilidade financeira.

Outro ponto que deve ser discutido no jantar é a possível adesão de Goiás ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), iniciativa federal que promete aliviar as contas estaduais em troca de ajustes e contrapartidas.

O movimento é visto como uma tentativa de reorganizar as finanças e evitar que a situação se agrave nos próximos meses, especialmente considerando que o vice-governador Daniel Vilela (MDB) pode herdar o comando do Estado caso Caiado avance em novos projetos políticos nacionais.

Dentro da Assembleia, a reação foi imediata. Deputados reclamam do tom adotado pelo governador e afirmam que a devolução integral inviabiliza compromissos internos já assumidos pela Casa. Alguns classificam a medida como “punitiva” e “autoritária”, enquanto outros tentam costurar uma solução intermediária, que preserve parte dos recursos para o Legislativo.

Apesar da resistência, a tendência é que a base acabe cedendo. Caiado tem maioria sólida e costuma agir com firmeza quando o tema é ajuste fiscal. O governador já demonstrou em outras ocasiões que não hesita em enfrentar o próprio grupo político quando acredita que há risco para o equilíbrio das contas públicas.

Mais do que uma disputa por R$ 600 milhões, o embate entre o Executivo e a Assembleia expõe o limite da relação entre governo e base aliada. De um lado, um governador determinado a impor disciplina fiscal e reforçar sua imagem de gestor rigoroso; do outro, parlamentares que se veem pressionados e sem margem de manobra.

O resultado desse confronto pode definir não apenas o futuro das finanças estaduais, mas também o clima político que vai marcar o restante do mandato. O jantar de terça-feira promete ser decisivo, e tenso.

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