Câmeras de monitoramento do projeto Bandeiras no Corredor registraram uma cena preocupante: cães perseguindo um tamanduá-bandeira, em uma área que conecta os Parques Estaduais da Serra de Caldas (Pescan) e da Mata Atlântica (Pema), no sudoeste do Goiás (assista ao vídeo aqui).
Pesquisadores que monitoram a fauna local identificaram preocupações relacionadas ao convívio entre animais silvestres e domésticos. A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) alertou sobre os riscos que esse contato pode trazer à fauna nativa.
No vídeo, um grupo de três cães cercam uma fêmea de tamanduá-bandeira, que transporta um filhote nas costas. Os cachorros a acuam por meio de latidos e investidas. Apesar da fuga da mãe e do filhote, a perseguição persiste, e a interação terminando fora do campo de visão da câmera preocupa os pesquisadores.
O incidente ocorreu no final da tarde de 6 de maio de 2023; no entanto, as imagens só foram analisadas posteriormente, durante uma revisão sistemática dos dados coletados.
A bióloga e coordenadora do projeto, doutora Alessandra Bertassoni, destacou que a presença desses cães sem supervisão pode levar a consequências graves para ambas as espécies, como a morte dos animais e a possibilidade de transmissão de doenças. “Embora já tenhamos registrado situações semelhantes, este é o primeiro cenário tão explícito”, comentou.
O projeto, que está sob a coordenação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e em parceria com a Aliança da Terra e a Semad, revisou 74 câmeras entre fevereiro e maio deste ano. Essa é a primeira iniciativa de monitoramento a longo prazo da fauna nos biomas Cerrado e Mata Atlântica da região.
De acordo com Alessandra, os conflitos envolvendo humanos e fauna são complexos e requerem a participação de toda a sociedade para solução. “Estamos diagnosticando a frequência e a gravidade do problema, e o pesquisador Me. Filipe G. Lima está aprofundando essa análise junto ao projeto Ecos do Convívio, que monitora a movimentação de cães nas áreas adjacentes ao Pescan”, acrescentou.
“Enquanto não houver uma tutoria responsável dos cães e a compreensão dos impactos das interações, essa situação persistirá. Muitos tutores acreditam que seus cães protegem a propriedade, mas é necessário promover a educação ambiental e agir de forma integrada com a comunidade”, concluiu a coordenadora.
Além do episódio com o tamanduá, as câmeras também registraram a presença de um cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), apresentando alopecia, um symptoma frequentemente associado à sarna, transmitida por cachorros domésticos. Esses achados revelam a interação adversa entre fauna silvestre e animais domésticos, evidenciando a necessidade de avaliações sobre a saúde desses seres.
“Monitorar a fauna na região oferece oportunidades valiosas para pesquisa, contribuindo para um melhor entendimento das espécies, suas ecologias e comportamentos, e as vulnerabilidades que enfrentam”, afirmou Alessandra.
Entre os registros positivos, em uma área florestal, foi observada a interação de jaguatiricas adultas (Leopardus pardalis), sugerindo uma possível comunicação entre elas. Em diferentes locais, as câmeras capturaram imagens de uma fêmea de tamanduá-bandeira com seu filhote, indicando que a espécie está se adaptando bem ao seu habitat. A importância da preservação dos cursos d’água em áreas rurais também foi evidenciada em imagens do tamanduá-bandeira bebendo água.
Outros registros demonstraram a presença de diferentes espécies, como catetos (Dicotyles tajacu) interagindo socialmente, e um gato-do-mato-do-sul (Leopardus guttulus) afiando suas garras. Um gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus) também foi filmado pela primeira vez, aproveitando o sol em um banho relaxante.
O projeto Bandeiras no Corredor visa monitorar mamíferos e aves em áreas de conservação no sudeste goiano, com foco na dinâmica populacional e relações ecológicas de longo prazo, incluindo reação a eventos de fogo.
Com uma área total de cerca de 60 mil hectares, o projeto começou em julho de 2023. A secretária da Semad, Andréa Vulcanis, acredita que os dados obtidos oferecerão suporte para criar políticas de conservação mais robustas.
“O estudo permitirá entender como os animais se comportam em locais afetados por queimadas, abrangendo como vivem e se reproduzem nestes ambientes alterados”, concluiu.
As câmeras de monitoramento têm sido fundamentais para a análise da fauna local e o impacto da presença humana sobre ela, fornecendo dados essenciais para a conservação ambiental.
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