A celebração dos santos Cosme e Damião, marcada para o dia 27 de setembro no Brasil, é um evento que une tradições cristãs e influências das religiões de matriz africana. Enquanto a Igreja Católica destaca o martírio dos gêmeos em 26 de setembro, a festividade ganha uma dimensão cultural e religiosa profunda nas comunidades afro-brasileiras. Em Salvador, o padre Carlos Augusto Cruz, da Igreja de São Cosme e São Damião, enfatiza a importância da devoção a esses santos como um símbolo de fé.
“A tradição em venerar Cosme e Damião foi introduzida pelos colonizadores portugueses, mas seu significado se expandiu com a interação entre as culturas, resultando em um forte sincretismo religioso. A Igreja Católica apoia essa diversidade, reconhecendo os santos como representantes da fé cristã”, afirma o padre.
A conexão entre os santos católicos e os orixás Ibejis é elucidada por Mônica Barbosa, historiadora e sacerdotisa da Umbanda. Ela detalha como a imposição da colonização levou os africanos a misturarem suas crenças com as tradições cristãs.
“Com a proibição de cultuar suas divindades, os africanos passaram a adotar o culto a Cosme e Damião. Assim, a figura dos gêmeos ficou associada aos Ibejis, que são considerados os orixás gêmeos no Candomblé, estabelecendo uma intersecção cultural significativa”, explica Mônica.
Durante as festividades, a distribuição de doces para as crianças e a tradicional preparação do caruru, um prato típico que possui raízes africanas, são destaque. O caruru é feito com quiabo e costuma ser oferecido aos Ibejis.
“Desde o século XVII, as balas foram sendo incorporadas ao caruru, começando pela bala de cana e eventualmente evoluindo para a tradição atual, onde doces se tornaram essenciais na festividade. Em algumas comunidades, é comum a oferta de apenas doces, ao invés do prato”, revela Mônica.