Um novo documentário, Amazônia, A Nova Minamata?, do cineasta Jorge Bodanzky, traz à tona os efeitos devastadores do uso de mercúrio na extração de ouro na Floresta Amazônica e, em especial, na Terra Indígena Munduruku, no estado do Pará. O filme destaca o alto nível de contaminação que afeta não apenas os indígenas, mas toda a região, revelando o perigo daquela que é classificada como a Doença de Minamata, uma condição resultante da ingestão de água contaminada por mercúrio.
Com três décadas de atividade garimpeira na Amazônia, a presença do mercúrio no sangue dos trabalhadores revela uma séria ameaça à saúde pública. O documentário registra a jornada do neurologista paraense Erick Jennings e da equipe da Fiocruz em busca de respostas para os problemas neurológicos que afligem as crianças da região, relatando a urgência da situação para as comunidades afetadas.
“O mal de Minamata no Japão levou 35 anos para ser reconhecido. Imaginemos o que está acontecendo aqui”, destaca Bodanzky.
O cineasta conecta a realidade brasileira à história de Minamata, no Japão, onde a poluição mercurial resultou em severas sequelas para a população local no século passado. O impacto devastador da indústria nos pescadores da época serve de alerta para as consequências que o garimpo ilegal pode trazer para os indígenas da Amazônia.
Bodanzky começou a filmar em 2016, quando se deparou com solicitações alarmantes de cadeiras de rodas para crianças com complicações neurológicas. Esse primeiro contato foi a semente para um projeto mais amplo, culminando nas filmagens realizadas em 2022, onde relatos de sobreviventes de Minamata foram compartilhados, em um esforço para unificar vozes em torno da luta contra a contaminação por mercúrio.
“Traduzimos um teaser sobre Minamata para a língua Munduruku e o exibimos nas aldeias, ajudando-os a entender a gravidade da situação”, explica o diretor.
A produção não apenas denuncia, mas também serve como um instrumento para organizações locais que buscam conscientizar as comunidades sobre a contaminação. O filme tem sido requisitado por lideranças, reforçando sua importância como ferramenta ativista para a luta contra a poluição na Amazônia.
Amazônia, A Nova Minamata? estreia nas salas de cinema brasileiras nesta quinta-feira, dia 4, trazendo à tona uma questão crítica que afeta milhares de vidas e solicitando urgentemente a atenção das autoridades e da sociedade. O filme se propõe a não só informar, mas também instigar uma reflexão necessária sobre os riscos da atividade garimpeira e seus devastadores efeitos sobre o meio ambiente e a saúde humana.
*Com produção de Luciene Cruz