A política no Nordeste do Brasil atravessa um momento de profundas mudanças, após séculos marcados pelo coronelismo e o domínio das oligarquias. Historicamente, o poder ficou concentrado nas mãos de poucos, que utilizavam mecanismos de controle sobre o voto. Durante a Era Vargas e a Ditadura Militar, a centralização das decisões em Brasília restringiu a autonomia regional. Contudo, com a redemocratização, o cenário político se diversificou e abriu espaço para novas vozes.
A cientista política Monalisa Torres ressalta que, por um longo período, as elites locais tiraram proveito das desigualdades sociais, perpetuando um ciclo de dependência. “Elas trocavam votos por cargos públicos e, em contrapartida, os governos nomeavam delegados e juízes que mantinham o controle político”, afirma.
Nos últimos anos, observou-se uma fragmentação do cenário político, incluindo a ascensão de partidos de esquerda e de centro-esquerda. Essa evolução tem sido acompanhada por programas sociais que visam a inclusão, beneficiando a população vulnerável. Essas iniciativas contribuíram para melhorar a qualidade de vida e aumentar o poder de compra das camadas mais pobres. Como resultado, o Nordeste se tornou uma força significativa nas urnas e nas eleições presidenciais.
O cientista político Cláudio André, autor do livro Voto e Política no Nordeste, explica que “o século XXI rompe com a estrutura oligárquica, instaurando um novo padrão eleitoral que prioriza a defesa de uma agenda voltada ao combate das desigualdades, além da ascensão de um novo ciclo político”. Esse contexto inclui debates sobre políticas públicas que abordam questões de saneamento, infraestrutura e geração de empregos.
Além das eleições, os estados nordestinos têm se unido em torno de iniciativas como o Consórcio Nordeste, criado em 2019. Essa aliança, que reúne os nove estados da região, busca fortalecer políticas públicas e atrair investimentos, enfrentando desafios comuns de maneira coletiva. O governador do Piauí e atual presidente do consórcio, Rafael Fonteles, enfatiza que “nossa região é um exemplo de união, defendendo investimentos em diversas áreas, incluindo educação, saúde, infraestrutura e transição energética, enfrentando as grandes oportunidades e desafios contemporâneos”.
O Nordeste, portanto, não só não perde sua relevância na política nacional, como se reafirma como um ator chave em um Brasil que busca mais justiça e equilíbrio, com oportunidades para todos os cidadãos.