Obra de asfalto é paralisada no Paraná após descoberta de fósseis mais antigos que os dinossauros

Descoberta de fósseis de ‘Mesosaurus brasiliensis’ leva à suspensão de pavimentação na PR-364; MPF aponta falhas em licença ambiental emitida sem parecer do Iphan

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Obra de asfalto é paralisada no Paraná após descoberta de fósseis mais antigos que os dinossauros

A pavimentação da PR-364, entre Irati e São Mateus do Sul, no centro-sul do Paraná, foi paralisada após a descoberta de um sítio paleontológico com fósseis de Mesosaurus brasiliensis — uma espécie de réptil aquático que viveu há cerca de 280 milhões de anos, muito antes dos dinossauros. O achado, que tem importância científica internacional, levou o Ministério Público Federal (MPF) a recomendar o cancelamento da licença ambiental da obra.

Segundo o MPF, a licença foi emitida sem a devida análise e manifestação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o que representa uma falha grave no processo e risco de dano ambiental e arqueológico. A procuradora da República Monique Cheker, responsável pela recomendação, afirmou que a continuidade da obra sem estudos adequados poderia comprometer o patrimônio histórico e cultural da União.

“A recomendação do MPF destacou a necessidade de anular a licença e condicionar qualquer continuidade da obra à prévia manifestação do Iphan, além da realização de estudos arqueológicos e paleontológicos adequados, essenciais para a proteção do patrimônio histórico-cultural e ambiental do país”, diz nota do MPF.

Os fósseis que motivaram a paralisação da obra foram encontrados em maio de 2025, durante os trabalhos de pavimentação na BR-153, também entre Irati e São Mateus do Sul, região onde já havia registro de material semelhante. Trabalhadores que atuavam no local identificaram oito peças fossilizadas e comunicaram a descoberta a pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

Professores e estudantes da universidade se mobilizaram para realizar escavações e acabaram coletando cerca de 30 fragmentos, agora em fase de análise e catalogação. O sítio paleontológico fica próximo a um campus da Unicentro, o que tem facilitado a investigação científica e o acompanhamento das obras na região.

De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR), responsável pela execução da obra, o trecho paralisado tem 1,6 km de extensão e inclui a implantação de um viaduto no entroncamento com a BR-153. O investimento total é de R$ 23,7 milhões, e o projeto estava 52,72% concluído até a suspensão.

A previsão inicial era de que a pavimentação fosse entregue até 28 de novembro de 2025, mas com a suspensão, não há novo cronograma definido. O DER-PR informou que estuda “as melhores soluções para garantir a retomada dos serviços ou a elaboração de alternativas para execução da obra”. Enquanto isso, o tráfego entre as rodovias está sendo desviado por uma via municipal.

O Mesosaurus brasiliensis é um dos fósseis mais antigos da América do Sul e teve papel importante na comprovação da teoria do supercontinente Pangeia, quando todos os continentes estavam unidos há centenas de milhões de anos. A presença desses fósseis no Paraná reforça a relevância da região para a paleontologia mundial.

O caso chama atenção para o equilíbrio delicado entre desenvolvimento de infraestrutura e preservação do patrimônio natural e histórico, lembrando que o avanço da ciência também depende do cuidado com o que está soterrado há milhões de anos.

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