Piracanjuba (GO) vive dias de efervescência política. A cidade, conhecida por sua tranquilidade no interior goiano, virou palco de um forte movimento popular contra a proposta da Câmara Municipal que prevê o pagamento de 13º salário e férias remuneradas aos vereadores.
Apesar de a medida ter respaldo jurídico , o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece a legalidade do benefício , a população argumenta que, diante da realidade financeira e social do município, o projeto é imoral e fora de contexto.
A insatisfação vem de um cenário visivelmente carente: o hospital municipal está sucateado, sem UTI e sem estrutura para atendimentos especializados, especialmente voltados às mulheres. Faltam equipamentos, insumos e até analgésicos básicos. As filas para exames e cirurgias se acumulam, enquanto o sistema de saúde local sobrevive em modo de emergência.
Na educação, o quadro não é melhor. Escolas funcionam sem refeitórios adequados, parquinhos ou bibliotecas. Na Escola Maria Barbosa, no setor Lima, os alunos fazem as refeições em uma tenda improvisada e quando chove, o “refeitório” vira sala de aula.
As ruas da cidade também refletem o abandono: buracos, falta de asfalto e ausência de manutenção básica. Em meio a esse panorama, o projeto de lei que beneficia vereadores caiu como uma faísca num barril de pólvora.
A mobilização popular ganhou força rapidamente. Cidadãos, produtores rurais, lideranças comunitárias e influenciadores se uniram em torno da causa. O movimento foi encabeçado por nomes como Gabriella Machado , criadora de um abaixo-assinado que já ultrapassa 3 mil assinaturas , os produtores Fábio e Adriano Donegá, o líder comunitário Wilton Tadeu e a influenciadora Maria Cristina.
Na última segunda-feira, o grupo organizou uma carreata que tomou as ruas de Piracanjuba em protesto contra a votação. O clima esquentou de vez quando o presidente da Câmara, Fernando Silva, alterou de surpresa o horário da próxima sessão para sexta-feira (24), às 9h da manhã decisão que, segundo os manifestantes, foi uma tentativa de esvaziar a presença popular.
Mas o efeito foi o contrário. A população reagiu com ainda mais força. “Piracanjuba está nas ruas e não vai se calar. O movimento não é de um, é de todos. É a voz de um povo que entende que, mesmo sendo legal, é imoral diante da realidade do município”, afirmam os organizadores.
O agricultor Fábio Rodrigues, um dos manifestantes mais ativos, resumiu o sentimento coletivo:
“A gente é contra porque aumenta os gastos públicos, e não foi isso que prometeram pra sociedade quando pediram votos. Piracanjuba está um caos na saúde. O Hospital Regional está caindo aos pedaços, faltam insumos e até analgésico pra crianças.”
Ele também destacou que a mobilização é espontânea e que os cidadãos têm buscado contribuir com o município.
“A gente se comprometeu a fazer mutirão pra limpar a cidade e arrecadar recursos com leilões beneficentes pro hospital. Mas é difícil mobilizar as pessoas quando o poder público não dá exemplo.”
A forte pressão popular levou ao encerramento da sessão e adiamento da votação. Mesmo assim, os manifestantes prometem continuar vigilantes.
“A repercussão foi grande, e dentro do respeito, a pressão vai continuar. O povo acordou”, concluiu Fábio.
O recado foi dado: Piracanjuba não aceita mais a velha política de privilégios. Em um momento em que saúde e educação pedem socorro, a população exige prioridades reais e ética no uso do dinheiro público.
Piracanjuba não está apenas em protesto ,está em alerta.





