As ruas de pedra, o casario colonial e a hospitalidade inconfundível de Pirenópolis já anunciam que algo grandioso está prestes a acontecer. Entre os sinos das igrejas e o burburinho nos cafés da cidade, uma expectativa silenciosa e profunda se forma: é tempo de Cavalhadas. Em 2025, o evento chega ao seu 199º ano com força renovada, como símbolo da resistência cultural e do orgulho goiano.
Marcadas para os dias 8, 9 e 10 de junho, as Cavalhadas são o ápice da tradicional Festa do Divino Espírito Santo, que movimenta Pirenópolis por mais de 50 dias com ritos religiosos, encontros culturais e manifestações populares que misturam o sagrado e o profano de forma única no Brasil. A celebração envolve moradores, visitantes, devotos e artistas em um sentimento coletivo difícil de traduzir, mas fácil de sentir.
Apesar das reformas no Cavalhódromo, que devem seguir por mais tempo, o Campo das Cavalhadas — espaço simbólico da cidade — volta a receber os cavaleiros. Dezenas de homens montados a cavalo, divididos entre cristãos e mouros, encenam uma batalha que transcende o campo físico: ali se confrontam tradições, heranças e crenças que atravessam quase dois séculos.
Mais que um espetáculo visual, com armaduras reluzentes, lanças, bandeiras e coreografias cronometradas, as Cavalhadas são também uma expressão de fé e pertencimento. Cada cavaleiro carrega em si uma história familiar, um compromisso que passa de geração em geração. Muitos se preparam o ano todo para viver, durante três dias, o papel que vai muito além da performance: é representação, é devoção.
Mas a espera pelas Cavalhadas não é feita apenas de quem monta. As mulheres se organizam para confeccionar as Verônicas — doces de açúcar moldados artesanalmente. As crianças correm atrás dos Mascarados, figuras irreverentes que animam as ruas com suas fantasias coloridas e suas brincadeiras. A cidade como um todo se transforma. O comércio local aquece, a rede hoteleira atinge a lotação máxima e os moradores decoram as portas com bandeiras vermelhas e brancas em homenagem ao Divino Espírito Santo.
Pirenópolis vive essa época com o coração exposto. A cidade respira cultura, tradição e religiosidade de um modo que poucas no Brasil ainda conseguem. É um espetáculo coletivo de preservação da memória e, ao mesmo tempo, de renovação das esperanças.
A quem participa, resta o encantamento. A quem assiste pela primeira vez, o impacto de presenciar algo que vai muito além do folclore: as Cavalhadas são, acima de tudo, um ato de pertencimento, uma ponte entre passado e presente que segue firme, mesmo diante das mudanças do tempo.
Em tempos tão acelerados, Pirenópolis convida o Brasil a pausar, observar e sentir. Porque ali, quando os tambores tocam e os cavalos avançam, não é apenas uma festa que acontece — é a identidade de um povo que se levanta.