Tucupi, tacacá, maniçoba e açaí: essas iguarias são mais do que apenas sabores; elas representam a cultura indígena e a riqueza da Amazônia. Durante a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em Belém (PA), os participantes terão a oportunidade de descobrir a gastronomia amazônica de maneira imersiva, sem que os alimentos percam suas características durante o transporte ou conservação.
Gastronomia Amazônica em Foco
A chef Esther Weyl, natural do Pará e responsável pelo restaurante Celeste, destaca a importância de estar conectada aos ingredientes locais. Após anos de experiência em cozinhas renomadas ao redor do mundo, Esther decidiu retornar a sua terra natal para valorizar os produtos regionais em suas preparações, estabelecendo um laço direto com a agricultura local.
“Acredito que a comida paraense é o que faz sentido para mim. Para trabalhar com culinária de produto, é essencial estar próximo dos fornecedores e entender a sazonalidade dos ingredientes. O que busco é mostrar a culinária paraense, mas para as pessoas que vivem aqui”, enfatiza Esther.
Uma Abordagem Criativa
No Celeste, os ingredientes do Norte são presentados de forma inovadora. Esther explica que sua culinária é um híbrido entre o autoral e o regional, mas que não se limita às receitas tradicionais.
“As pessoas muitas vezes têm dificuldades em categorizar meu trabalho. Embora eu não prepare receitas clássicas como o pato no tucupi, me inspiro nessas tradições para criar novas versões que reflitam a riqueza da nossa cozinha”, diz a chef.
Um prato que exemplifica essa abordagem é o pirão de tomate e tucupi, que embora se inspire na caldeirada, não a replica. Esther considera a caldeirada no tucupi como um dos pratos essenciais para quem visita Belém.
“É uma experiência única, com os peixes típicos da região, e o tucupi é um fermentado que demonstra toda a tecnologia dos povos indígenas”, afirma.
Tradicional e Popular
A chef Lúcia Torres, que opera o Box Bar e um quiosque no tradicional Ver-o-Peso, também é um nome respeitado na culinária popular de Belém. Com mais de 40 anos de experiência, Lúcia se dedica a preparar pratos que utilizam produtos naturais e locais.
“O nosso camarão empanado, por exemplo, é feito com uma massa que criei especialmente, utilizando as ervas típicas da região”, explica Lúcia.
Ela destaca que sua comida reflete o cotidiano do paraense e possui forte ligação com as tradições culinárias da família. “Aqui, o acesso a pratos como tacacá, maniçoba e caruru é comum, e as pessoas valorizam essa comida tradicional”, acrescenta.
Desafios e Sazonalidade
Esther e Lúcia enfatizam que lidar com ingredientes frescos traz desafios, especialmente com a sazonalidade dos produtos. “Em maio, por exemplo, a mudança de cardápio é drástica, e todo o cenário gastronômico de Belém é afetado”, comenta Esther.
“Respeitar a sazonalidade é essencial. Temos que entender que a natureza impõe seus próprios ritmos, e isso deve refletir em nossa forma de consumir os alimentos”, completa.
Futuro da Gastronomia e Sustentabilidade
Esther acredita que o futuro da gastronomia reside na valorização de produtos regionais e no respeito às temporadas. Durante a COP30, ela pretende destacar a importância de uma alimentação sustentável, que priorize o que é produzido localmente e respeite o conceito de quilômetro zero.
“Devemos nos questionar se é realmente necessário ter acesso a certos produtos o ano todo. O morango, por exemplo, pode não ser essencial em nosso consumo diário”, reflete.
A paleta de sabores da região, que inclui cacau nativo, castanha do Pará, babaçu e cupuaçu, não apenas destaca a biodiversidade da Amazônia, mas também oferece uma oportunidade para o público entender como esses alimentos podem ajudar a proteger a floresta.
*Com sonoplastia de Jailton Sodré.
