O teatro tem a capacidade única de preservar histórias, valorizar experiências e dar espaço à escuta. É exatamente isso que faz a Cia de Teatro Senhoras do Cerrado, grupo criado em 1998 e formado exclusivamente por mulheres com mais de 60 anos. Ao longo de mais de duas décadas de trabalho, a companhia se consolidou como uma referência cultural em Goiás, levando ao palco temas ligados à vivência, à identidade e à valorização da maturidade.
O grupo surgiu dentro da antiga Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário (Fumdec), com o objetivo de promover bem-estar e autoestima para mulheres da terceira idade. Hoje, atua como grupo independente, com apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social de Goiânia, e realiza seus ensaios no Grande Hotel, no centro da capital.
Com um repertório variado e construído a partir das experiências das próprias atrizes, a Cia de Teatro Senhoras do Cerrado já apresentou espetáculos como Colchas de Retalhos, Coração Doce, Clarices e Viver. Cada montagem propõe uma reflexão sobre o envelhecer, a família, as relações e o tempo — sempre com sensibilidade, bom humor e uma linguagem acessível ao público.

O grupo é dirigido por Wadson Arantes Gama, psicólogo e professor com forte atuação nas áreas de cultura, envelhecimento e inclusão. Sua direção busca valorizar a escuta, o repertório de vida das participantes e o aspecto artístico da cena. Além do trabalho teatral, Wadson também coordena o projeto “Viver em Cena”, em parceria com o Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde o grupo tem se apresentado desde 2024.
A estreia mais recente foi o espetáculo Invisibilidade, apresentado no auditório do Museu Antropológico da UFG. A obra, baseada em relatos reais das integrantes, aborda temas como a passagem do tempo, vínculos familiares e a presença da mulher idosa na sociedade. A montagem equilibra narrativa, elementos visuais e uma trilha sonora bem escolhida, que dialoga com o conteúdo de forma discreta e eficaz.
Ao longo dos anos, o trabalho da Cia Senhoras do Cerrado vem sendo reconhecido pela qualidade artística, pela autenticidade das atrizes e pela proposta de valorizar um público que, muitas vezes, é deixado à margem da cena cultural. O palco, nesse caso, se torna uma extensão da vida: um lugar para contar, lembrar, emocionar e compartilhar.