Em 11 de setembro, comemora-se o Dia do Cerrado, o segundo maior bioma da América do Sul, cobrindo um quarto do território brasileiro. Este ecossistema se destaca como a savana tropical mais biodiversa do planeta, sendo lar de inúmeras espécies que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar. O Cerrado abriga cerca de 5% de toda a biodiversidade global, revelando sua importância ecológica.
Uma das principais áreas de proteção do Cerrado é a Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante, Goiás, próximo à famosa Chapada dos Veadeiros. A bióloga da reserva, Mariana Vasquez, enfatiza que o bioma não se resume à monocultura da soja promovida pelo agronegócio. Existem riquezas nativas que podem gerar desenvolvimento econômico sustentável para pequenos produtores em vez de apenas focar nas culturas tradicionais.
“Espécies como pequi, baru e mangaba são frutos do Cerrado que possuem um alto valor comercial. Cultivados por muitas comunidades locais e pequenos produtores, esses frutos são essenciais para a preservação do bioma e a economia da região”, explica Vasquez.
Apesar da sua imensa riqueza natural e da relevância para a vida, o Cerrado é o bioma brasileiro mais ameaçado atualmente. De acordo com o MapBiomas, em 2024, ele ultrapassou a Amazônia em termos de desmatamento, o que acende o alerta sobre a conservação dessa região vital.
Leonidio Maia, integrante da comunidade quilombola Kalunga em Cavalcante, relata que o Cerrado é fundamental não apenas para a cultura local, mas também para a subsistência de sua família. Ele menciona que o bioma fornece renda através de atividades como agroextrativismo e turismo. “O Cerrado é nosso orgulho, riquíssimo em biodiversidade, e é também a fonte de renda para muitos de nós”, afirma Maia.
“Meu sustento vem do Cerrado. Trabalho com artesanato e como guia turístico, e a beleza desse ecossistema é parte essencial da minha vida”, complementa.
A professora Mercedes Bustamante, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, ressalta a importância do Cerrado para a segurança hídrica e alimentar brasileira. Contudo, o bioma já perdeu 50% de sua cobertura original devido a atividades humanas. Além disso, enfrenta as consequências das mudanças climáticas, tornando-se mais quente e seco.
“A perda de cobertura é alarmante e requer políticas públicas efetivas para sua conservação e uso sustentável”, ressalta Bustamante.
Em resposta a essas demandas, o governo federal lançou, em 2023, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado, buscando conter a degradação desta rica área. Entretanto, segundo Mariana Vasquez, algumas diretrizes do Código Florestal ainda permitem desmatamentos significativos.
“O desmatamento impacta diretamente a produção de água, essencial para a manutenção dos serviços ecossistêmicos do Cerrado. Observamos uma redução de 27% na vazão dos rios do Cerrado. Parte desse desmatamento ocorre de maneira irregular, enquanto outras áreas são autorizadas pelo código florestal”, explica Vasquez, destacando que propriedades dentro do bioma podem ter até 80% de sua área desmatada.
A perda de vegetação no Cerrado afeta diretamente a disponibilidade de água, pois ele abriga as nascentes das principais bacias hidrográficas da América do Sul, incluindo as bacias do Amazônia-Tocantins, São Francisco e Prata. Por essa razão, o Cerrado é conhecido como a “caixa-d’água do Brasil”.