No dia 17 de julho de 2025, celebramos um marco histórico: o centenário de Clara Charf, mulher emblemática cuja trajetória é marcada por coragem e resistência. Nascida em Maceió em 1925, Clara é filha de imigrantes judeus poloneses e cresceu em um Brasil caracterizado por profundas desigualdades sociais.
Durante sua vida, Clara observou e viveu diversos capítulos sombrios da história contemporânea, incluindo a ascensão do nazismo, a Segunda Guerra Mundial, e as ditaduras que assolavam a América Latina. Porém, não foi apenas uma testemunha; ela foi uma protagonista.
Com uma carreira que começou como aeromoça da Aerovias Brasil, Clara evoluiu para ser líder comunista e parceira de Carlos Marighella, além de coordenadora de projetos internacionais de paz. Sua voz se tornaria um símbolo de luta pelas mulheres no Brasil, destacando suas narrativas e necessidades em um cenário muitas vezes opressor.
A militância de Clara se consolidou nos anos 1940, em São Paulo e posteriormente no Rio de Janeiro, quando se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. Suas lutas também se concentraram nas questões femininas, onde ela se destacou ao discutir injustiças sociais, como denunciado em uma entrevista ao programa Mulherio na Rádio MEC AM em 2005, onde compartilhou a origem do Dia Internacional da Mulher e sublinhou as desigualdades ainda existentes.
Na década de 1950, Clara se uniu a Carlos Marighella e juntos enfrentaram um período turbulento de movimentos populares. No entanto, o golpe militar de 1964 os forçou à clandestinidade. Clara e Marighella fugiram rapidamente de casa, levando apenas uma mala, e logo enfrentaram uma nova realidade marcada pela repressão e pela luta pela liberdade.
Após o atentado a Marighella em um cinema, ele foi preso e Clara teve seus direitos políticos cassados, vivendo na ilegalidade por mais de uma década. Em 1969, Clara recebeu a notícia devastadora do assassinato de Marighella, um momento que transformou irrevogavelmente sua vida.
Após a tragédia, Clara se exilou em Cuba, onde permaneceu por dez anos utilizando identidade falsa. Durante esse período, se dedicou a ações de solidariedade internacional e treinamentos políticos. Ela retornou ao Brasil apenas após a Anistia, em 1979.
No Brasil, Clara envolveu-se na fundação do Partido dos Trabalhadores e ocupou posições como assessora parlamentar e coordenadora de políticas para mulheres. No entanto, sua luta não esteve restrita ao âmbito político. Clara canalizou sua dor em um ativismo vibrante, tornando-se um pilar do feminismo e da reconstituição social do país.
Em 2005, Clara coordenou o projeto Mil Mulheres pela Paz, que reconheceu 52 brasileiras como candidatas ao Prêmio Nobel da Paz, trazendo à luz a importância do trabalho silencioso das mulheres em prol da paz e justiça.
Ao completar 100 anos, Clara Charf permanece uma referência de ética e política. Sua trajetória não se resume à sobrevivência, mas à integridade de uma vida de luta. Clara reitera a importância da paz, da justiça social e da valorização das vozes femininas.
Clara, sua influência se reflete em cada mulher que se ergue em defesa de seus direitos. Você é não apenas um símbolo de resistência passada, mas uma força presente que continua a inspirar um Brasil por justiça, mesmo em tempos desafiadores.