Em cartaz na capital paulista, o espetáculo “Lady Tempestade” é inspirado no diário da advogada pernambucana Mércia Albuquerque, que defendeu mais de 500 presos políticos durante a ditadura militar no Brasil. A montagem é protagonizada pela atriz Andréa Beltrão, que interpreta uma personagem que se depara com os manuscritos de Mércia, revelando as lutas e desafios que enfrentou em um dos períodos mais sombrios da história do país.
Com dramaturgia de Silvia Gomez e direção de Yara de Novaes, “Lady Tempestade” aborda, por meio das palavras de Mércia, a angústia de acolher mães de filhos desaparecidos em seu apartamento no Edifício Ouro, no centro do Recife. A peça propõe uma escuta profunda das vozes que resistiram e que ainda reverberam, conforme enfatiza Beltrão.
Em sua interpretação, a atriz destaca a importância de não esquecer as histórias do passado: “A Mércia fala: não, não pode esquecer. E não pode esquecer. A gente já está cansado de saber que não pode esquecer de nada, porque o esquecimento importa aos que contaram a história do jeito que quiseram”.
A audiência é levada a descobrir que Mércia “cavucou” documentos proibidos, denunciou torturadores e salvou centenas de vidas, mesmo enfrentando a prisão em 12 ocasiões. Para Andréa Beltrão, o espetáculo é crucial para trazer à tona questões atuais relacionadas à memória, justiça e reparação das violências do Estado no Brasil.
“Ao transformar um assunto tão difícil em um espetáculo, conseguimos estimular reflexões e provocar emoções. O teatro e o cinema têm esse poder de abalar certezas e mudar paisagens”, ressalta a atriz.
Mércia Albuquerque faleceu em 2003, aos 68 anos. O aclamado espetáculo “Lady Tempestade” já passou por Rio de Janeiro e Porto Alegre e atualmente está em cartaz no Sesc Consolação, em São Paulo, até 6 de julho, antes de seguir em turnê por Recife, Natal, Fortaleza e Campina Grande.