Em Belém, o Círio de Nazaré se estabelece como uma das maiores expressões de fé do Brasil, celebrando sua 233ª edição em um contexto especial, às vésperas da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). Este evento, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO desde 2013, mantém viva a tradição religiosa que reverencia Nossa Senhora de Nazaré.
Com a cidade se preparando para o Círio da COP, um intenso reforço na segurança e na logística se torna necessário. O governo do Pará acredita que a experiência de Belém em eventos de grande porte pode ajudar a moldar a infraestrutura necessária para a conferência internacional. A mobilização em Belém é palpável, com milhares de pessoas já participando das festividades religiosas, que são um verdadeiro símbolo de união e devoção.
Na última segunda-feira, mais de 400 embarcações participaram da Romaria Fluvial, atraindo cerca de 50 mil fiéis. Já na trasladação, que durou mais de cinco horas, a cidade se encheu com a presença de romeiros, somando cerca de dois milhões de pessoas no principal dia da festividade. Essas pessoas buscam acolhimento em locais como a Casa de Plácido, um ponto histórico que conecta o passado ao presente da devoção em Belém.
A Casa de Plácido é um tributo a Plácido José de Sousa, que, em 1700, encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em uma situação sobrenatural. A história se repete com ele construindo uma ermida no local, onde desde então a fé se solidifica em rituais como o Lava Pés, uma demonstração de caridade e humanidade. Este ano, a expectativa é que cerca de 18 mil romeiros passem pelo abrigo, com o apoio de 530 voluntários, que vão desde médicos a advogados, todos unidos pelo mesmo propósito.
“No ano passado, recebemos 286 caravanas, totalizando 20.500 pessoas em grupos fechados, além de outros 11 mil visitantes. A expectativa é que, com 212 caravanas já inscritas até o início do Círio, esse número aumente nesta edição,” afirmou Maria da Conceição Rodrigues, coordenadora da acolhida.
A devoção e o amor demonstrados pelos participantes tornam-se evidentes nas histórias contadas. Com lágrimas nos olhos, muitos romeiros relatam suas lutas pessoais e o apoio que recebem dos voluntários, que passam horas lavando os pés e cuidando das feridas, proporcionando conforto durante a dura caminhada espiritual que envolve longos trajetos até o Círio.
A artista Aline Folha foi convidada a criar a ilustração para a comunicação do evento, refletindo as emoções vividas durante a festa. Suas obras expressam a riqueza cultural e emocional da festividade, incorporando elementos do cotidiano, do paladar aos sons característicos, traduzindo sensações em arte visual. Folha descreve essa ligação afetiva com Nossa Senhora de Nazaré como profundamente significativa, tendo sua própria história de fé entrelaçada à sua arte desde 2016.
A obra de Aline não apenas embeleza o evento, mas também reforça a profunda conexão espiritual que ele inspira: o Círio de Nazaré não se explica, ele é vivido na intensidade de cada momento, nas carícias da fé e na fraternidade entre os que percorrem juntos este caminho de devoção.