Um tornado devastador atingiu o estado do Paraná e áreas da região Sudeste do Brasil, trazendo à tona preocupações sobre o impacto da crise climática. A análise da assessora de Clima e Racismo Ambiental do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Mariana Belmont, destaca que eventos como este são consequência direta das mudanças no clima global, não meramente desastres naturais.
Para Mariana Belmont, “o que ocorreu no Sul é mais uma evidência de que estamos enfrentando os efeitos da crise climática. Fenômenos extremos, que antes eram vistos como raridades, estão se tornando mais comuns e intensos devido ao aquecimento global. Chamamos isso de um evento climático extremo que é também um legado social e político da atualidade.”
O tornado, descrito como um evento meteorológico intenso e de curta duração, foi analisado pelo professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará, Everaldo de Souza. Ele enfatiza que, conforme os desastres climáticos se tornam mais frequentes, é essencial discutir ações de mitigação na COP30, que está prestes a ocorrer em Belém. O objetivo é reduzir os impactos da crise climática nas populações mais vulneráveis.
Everaldo de Souza destaca que “um clima marcado por extremos e pelo aquecimento global propicia a formação e intensificação desse tipo de evento a cada ano. Estamos aqui, em Belém, para ressaltar que esses fenômenos são previsíveis e urgentes, e precisamos preparar nossas cidades para enfrentá-los.”
Propensão da Região
De acordo com o meteorologista do Inmet, Ernani Nascimento, a região paranaense é propensa a tornados, posicionando o Brasil entre os países que mais registram esses fenômenos. Contudo, a ocorrência de um tornado intenso em uma cidade, como em Rio Bonito do Iguaçu, é uma ocorrência incomum e alarmante.
Ernani Nascimento explica que “embora tornados não sejam raros, a probabilidade de um fenômeno desse tipo atingir uma área urbana é baixa. Infelizmente, isso aconteceu agora, causando sérios danos.”
O meteorologista também observa que, nas últimas décadas, as condições para a formação de tornados na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina têm aumentado, principalmente na primavera, que é a estação atual.
A professora de Ecologia da Universidade de Brasília, Mercedes Bustamante, ressalta que a frequência crescente de eventos climáticos extremos ao redor do planeta está interligada às mudanças climáticas. Ela acrescenta que as chuvas intensas, como as registradas no Rio Grande do Sul, podem ser até 9% mais intensas devido ao aquecimento global.
Mercedes Bustamante alerta que “as mudanças climáticas provocam riscos compostos, combinando eventos como incêndios e precipitações extremas, o que resulta em enxurradas que causam devastação.”
Desigualdade e Racismo Ambiental
Mariana Belmont participa dos debates sobre a crise climática na COP30 em Belém, onde discute as desigualdades sociais exacerbadas pelas crises climáticas. Segundo ela, o impacto da crise não é uniforme e acentua a vulnerabilidade da população negra, mulheres e comunidades marginalizadas.
“A crise não atinge todos da mesma forma. O racismo ambiental é uma realidade. A população negra, especialmente mulheres negras, enfrenta maior vulnerabilidade devido à falta de infraestrutura e à desigualdade social”, sublinha.
Diante das perdas e dos danos causados pelo tornado no Sul, Mariana Belmont expressa sua solidariedade às vítimas, ressaltando a relevância dessas discussões em meio à Conferência do Clima. Durante a Cúpula de Líderes, que ocorreu em Belém nos dias seis e sete de outubro, 43 países e a União Europeia assinaram a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas. O documento enfatiza que as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as populações em situação de vulnerabilidade, incluindo aquelas afetadas pela pobreza e pela fome.
