A cidade de Trindade, em Goiás, viveu em 2025 mais uma edição histórica da Romaria do Divino Pai Eterno, consolidando-se como um dos maiores encontros de fé e religiosidade da América Latina. Entre os dias 27 de junho e 6 de julho, cerca de seis milhões de romeiros passaram pelo município, vindos de diferentes regiões do Brasil, reforçando a devoção popular que atravessa gerações.
A peregrinação em direção ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno transformou as estradas em um grande fluxo humano, marcado por passos silenciosos, cânticos e demonstrações de fé que começam ainda na estrada, muito antes de se avistar o portal de entrada da cidade. Muitos romeiros optaram por cumprir promessas andando a pé durante dias, sob sol forte, chuva ou frio, em trajetos que chegam a ultrapassar cem quilômetros.
A tradição secular, que começou com pequenos grupos de devotos no século XIX, segue viva e, em 2025, ganhou contornos ainda mais simbólicos. O tema escolhido para esta edição, “Pai Eterno, fazei-nos peregrinos de esperança”, sintetizou o sentimento coletivo de busca espiritual, renovação interior e fortalecimento da fé em um contexto de desafios pessoais e sociais.
Dentro da cidade, o ritmo cotidiano foi completamente alterado. As ruas ficaram tomadas por barracas de alimentação, pontos de apoio improvisados e grupos de voluntários que trabalharam para acolher os visitantes. A hospitalidade de Trindade, considerada um dos elementos centrais do evento, mais uma vez foi destacada. Moradores abriram suas casas, cederam espaço para descanso e ofereceram refeições para peregrinos exaustos.
Ao longo dos dez dias de programação, a Basílica permaneceu aberta em tempo integral, recebendo fiéis para missas, confissões e bênçãos. A Procissão da Penitência, realizada antes do amanhecer, foi um dos momentos mais aguardados. Em completo silêncio, milhares de pessoas caminharam pelas principais vias, cada uma carregando motivos íntimos para a jornada. A cena impressionou não apenas pelo número de participantes, mas também pela intensidade da concentração coletiva.
Outro símbolo marcante foi o sino Vox Patris, o maior do mundo em funcionamento, que ressoou diariamente. O som reverberou pelas ruas, criando um momento de pausa geral, como se toda a cidade parasse para refletir sobre o sentido mais profundo da peregrinação.
Os carreiros, com seus carros de boi enfeitados, também protagonizaram um dos desfiles mais tradicionais, reafirmando a ligação entre a festa religiosa e as raízes rurais de Goiás. A passagem dos carros, acompanhada por cânticos e rezas, emocionou moradores antigos e visitantes que assistiram ao cortejo ao longo das avenidas.
A Romaria do Divino Pai Eterno vai muito além de um evento religioso. Ela funciona como um grande retrato coletivo da sociedade brasileira, reunindo pessoas de todas as idades, origens e realidades sociais. Para muitos, trata-se do ponto alto do ano, momento em que se concretizam promessas, se agradecem conquistas ou se renovam forças para enfrentar dificuldades futuras.
Ao final do período oficial, o cenário na cidade se transforma: as ruas começam a esvaziar, os altares improvisados são desmontados, e os romeiros retornam para suas casas. Mas a Romaria deixa marcas profundas, tanto físicas quanto emocionais. Para quem participa, a experiência representa não apenas um gesto de fé, mas uma oportunidade de reconexão consigo mesmo, com a comunidade e com valores que muitas vezes ficam esquecidos no dia a dia corrido das grandes cidades.
Em 2025, a Romaria reafirmou a força de Trindade como um centro espiritual que consegue, ano após ano, mobilizar milhões de pessoas em torno de uma crença comum. A devoção ao Divino Pai Eterno prova que a fé permanece como uma das maiores expressões coletivas de identidade e esperança no Brasil, resistindo ao tempo e às transformações culturais.
ANP.COM.BR